30/10/2023

PAZ

Quando estiveres abatido,

Feche os olhos,

Respire e visualize

O vento deslizando

Nas flores calmas

Do Campo.

A paz, acredite, te alcançará

Num instante.


 

21/07/2022

RESUMO DE CITAÇÃO DA INTRODUÇÃO E PRIMEIRO CAPÍTULO DO LIVRO "AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR" Cipriano Carlos Luckesi

 Introdução

- “Neste livro, reúno um conjunto de artigos publicados ao longo dos anos de trabalho com avaliação da aprendizagem escolar. Neles se fazem presentes estudos críticos sobre a prática da avaliação da aprendizagem na escola, bem como proposições e encaminhamentos”.

- O autor relata o percurso acadêmico e com o tema da avaliação foi se tronando um objeto de estudo para ele.

- “(...) Já não me interessavam muito as questões técnicas; assediavam-me à mente e ao coração questões teóricas mais abrangentes; como a filosofia da avaliação da aprendizagem”.

- “Havia um capítulo intitulado ‘Compressão filosófica da educação: avaliação da aprendizagem’, no qual, dando sequência às minhas meditações anteriores, demonstrava que a prática da avaliação da aprendizagem não se dava em separado do projeto pedagógico, mas sim o retratava. Epistemologicamente, a avaliação não existe por si, mas para a atividade a qual serve, e ganha as conotações filosóficas, políticas e técnicas da atividade que subsidia”.

- “Discuti, então, como a avaliação da aprendizagem se manifestava como um lugar de práticas autoritárias na relação pedagógica, traduzindo um modelo de sociedade”.    

- “Propus, então, a avaliação diagnóstica como uma saída para o modo autoritário de agir na prática educativa em avaliação, e como meio de auxiliar a construção de uma educação que estivesse a favor da democratização da sociedade”.

- “Ainda em 1984, além de aprofundar a compreensão da avaliação da aprendizagem em seu viés autoritário, comecei a trabalhar na articulação da avaliação como o processo de ensino, numa perspectiva construtiva. Fui, nesse ano, convidado pelo professor José Carlos Libâneo a participar de um Simpósio na III Conferência Brasileira de Educação (CBE), que se realizaria em Niterói. Para acompanhar a exposição, escrevi um texto como o tema. Trabalhei nesse texto questões que me pareciam fundamentais para a didática, incluindo a avaliação. A avaliação da aprendizagem escola não poderia continuar a ser tratada como um elemento à parte, pois integra o processo didático de ensino-aprendizagem, como um de seus elementos constitutivos.

- “Organizei uma inicial compreensão sociopolítica da avaliação da aprendizagem e dei um passo na discussão de sua articulação no processo didático, subsidiando a construção bem-sucedida da aprendizagem”.

- “Apresentei uma dissertação intitulada ‘Por uma prática docente crítica e construtiva’, na qual, mais uma vez, tive a oportunidade de articular avaliação como projeto pedagógico, bem como com todo o processo de ensino. A avaliação foi então colocada a serviço da aprendizagem, no seu interior, constituindo-a, e não como um seu elemento externo”.

- “Ou seja: de um lado, estudei como a medida é necessária para a avaliação, mas também como a avaliação ultrapassa a medida em seu significado, oferecendo ao educador um suporte dinâmico a serviço da construção da aprendizagem bem-sucedida; de outro, estudei o erro como um elemento constitutivo da aprendizagem e não como algo que devesse ser recusado, ou, mais que isso, castigado”.

- “Em 1991, para participar da VI CBE que se realizou em São Paulo, na Faculdade de Educação da USP, escrevi um texto que recebeu o título ‘Avaliação da aprendizagem escolar: apontamentos sobre a pedagogia do exame’, no qual denunciei a atenção exacerbada de educandos, educadores, pais, administradores da educação ao fenômeno da promoção do educando de série em série em detrimento dos processos de construção da aprendizagem propriamente dita”.

-“(...) Desse mesmo ano, sob o título Avaliação da aprendizagem escolar: sendas percorridas, em que desenvolvi um estudo sobre a história da avaliação da aprendizagem nas pedagogias do seculo XVI ao XX, como também um estudo sobre a prática da avaliação da aprendizagem no Brasil. Abordei a avaliação da aprendizagem escolar nas pedagogias sob o enfoque de sua utilização disciplinar, tendo em vista a conformação do caráter dos educandos’.

Cap. 1 Avaliação da aprendizagem: apontamentos sobre a pedagogia do exame

- “O presente texto compõe-se de um conjunto de observações gerias sobre a prática da avaliação da aprendizagem na escola brasileira. São propriamente apontamentos”.

- “A característica que de imediato se evidencia na nossa prática educativa é de que a avaliação da aprendizagem ganhou um espaço tão amplo nos processos de ensino que nossa prática educativa escolar passou a ser direcionada por um ‘pedagogia do exame’”.

- Atividades docentes e discentes estão voltadas para um treinamento de “resolver provas”.

- “Para este texto, fixar-nos-emos na compreensão de que a prática pedagogia está polarizada pelas provas e exames. Esse é o tema sobre o qual declinamos os apontamentos subsequentes”.

- “Pais, sistemas de ensino, profissionais da educação, professores e alunos, todos têm suas atenções centradas na promoção, ou não, do estudante de uma série de escolaridade para outra”.

- “O nosso exercício pedagógico escolar é atravessado mais por uma pedagogia do exame que por uma pedagogia do ensino/aprendizagem”.

- Atenção na promoção (alunos desde o inicio do ano letivo):

“Durante o ano letivo, as notas vão sendo observadas, médias vão sendo obtidas. O que predomina é a nota: não importa como elas foram obtidas nem por quais caminhos. São operadas e manipuladas como se nada tivessem a ver com o percurso ativo do processo de aprendizagem”;

- Atenção nas provas (professores, provas como instrumentos de ameaças e torturas prévias dos alunos, elemento motivador).

- “Após algum tempo, lá vai ele: ‘as questões da prova são todas do livro que estamos utilizando, mas são difíceis. Se preparem! E assim por diante... Sadismo homeopático!”.

- “Essas e outras expressões, de quilate semelhante, são comuns no cotidiano da sala de aula, especialmente na escolaridade básica e média, e mais tarde na universitária. Elas demonstram o quanto o professor utiliza-se das provas como um fator negativo de motivação. O estudante deverá se dedicar aos estudos e prazerosos de serem aprendidos, mas sim porque estão ameaçados por uma prova. O medo os levará a estudar”.   

- “Os pais estão voltados para a promoção (expectativas das notas dos seus filhos). Reunião de pais com um único professor num mesmo momento. O ritual é criado para que efetivamente não haja um encontro educativo. Então, em geral, os pais se satisfazem com as notas boas, que, por sua vez, estão articuladas com as provas, nas quais estão centrados professores e alunos”.

- O estabelecimento de ensino está centrado nos resultados das provas e exames (verificar mediantes as notas como estão os alunos).

- “A aparência dos quadros, por vezes, esconde mais do que a nossa imaginação é capaz de atentar. Mas essa aparência satisfaz, se for compatível com a expectativa que se tem. A dinâmica dos processos educativos permanece obnubilada, porém emergem dados estatísticos formais. Sua leitura pode ser crítica ou ingênua, dependendo das categorias com que forem lidos”.

- “O sistema social se contenta com as notas obtidas nos exames (está atento aos resultados gerais). Aparentemente, importa-lhes os resultados gerias: as notas, os quadros gerais de notas, as curvas estatísticas”.

- “Em síntese: os sistemas de exames, como suas consequências em termos de notas e suas manipulações, polarizam a todos. Os acontecimentos do processo de ensino e aprendizagem, seja para analisá-los criticamente, seja para encaminhá-los de forma mais significativa e vitalizante, permanecem adormecidos em um canto. De fato, a nossa prática educativa se pauta por uma ‘pedagogia do exame’ Se os alunos estão indo bem nas provas e obtém boas notas, o ais vai...”

·         Desdobramentos especialmente a relação professor-aluno

 

o   Provas para reprovar (professores elaboram suas provas para “provar” o aluno) – possibilita distorções, como ameaças, questões deslocadas do conteúdo ensinado ou com nível de complexidade mais, uso de linguagem incompreensível.

o   Pontos a mais e pontos a menos: promessas de pontos a mais ou a menos em atividades regulares ou extras, que não estão ligadas necessariamente ao conteúdo.

o   Uso da avaliação da aprendizagem como disciplinamento social dos alunos (ameaças, por si não têm nada a ver como o significado dos conteúdos escolares, mas sim com o disciplinamento social dos educandos, sob a égide do medo).

- Explicações

Esses fatos não se dão por acaso. Tais práticas já estavam nas pedagogias dos séculos XVI e XVII, no processo de emergência e cristalização da sociedade burguesa e perduram ainda hoje.

·         A pedagogia jesuítica

o   Tinham uma atenção especial com o ritual das provas e exames (ocasiões solenes pelas bancas examinadoras e procedimentos e publicação dos resultados, emulação ou pelo vitupério – atitude que pode ofender a honra de alguém- daí decorrente)

·         Pedagogia comeniana (Comênio):

o   insiste na atenção especial que se deve dar à educação como centro de interesse na ação do professor, mas não prescinde do uso de exames. Para ele o medo é um excelente fator para manter a atenção dos alunos. Como isso aprenderam com muita facilidade, sem fadiga e com economia de tempo.

·         Sociedade burguesa.

o   Além de vivemos ainda sob a hegemonia da pedagogia tradicional (os jesuítas chegaram ao Brasil, em 1549, com nosso ilustre Primeiro Governador Geral, Tome de Souza), estamos mergulhados nos processos econômicos, sociais e políticos da sociedade burguesa, no seio da qual a pedagogia tradicional emergiu e se cristalizou, traduzindo o seu espírito. Claro, muita água passou por baixo da ponte’.  

- “A sociedade burguesa aperfeiçoou seus mecanismos de controle: dentre eles a seletividade escolar. O medo e o fetiche são mecanismos imprescindíveis de uma sociedade que não opera na transparência, mas sim nos subterfúgios”.

Fetiche (para Luckesi a avaliação da aprendizagem se tornou)

-“Por fetiche entendemos uma ‘entidade’ criada pelo ser humano para atender a uma necessidade, mas que se torna independente dele e o domina, universalizando-se”.

- “A avaliação da aprendizagem escolar, além de ser praticada com uma tal independência do processo ensino-aprendizagem, vem ganhando foros de independência da relação professor-aluno. As provas e exames soa realizados conforme o interesse do professor ou do sistema de ensino. Nem sempre se leva em  consideração o que foi ensinado. Mais importante do que ser oportunidade de aprendizagem significativa, a avaliação tem sido uma oportunidade de prova de resistência do aluno aos ataques do professor. As notas são operadas como se nada tivessem a ver com a aprendizagem. As médias são médias entre números e não expressões de aprendizagens bem ou malsucedidas”.

- “No que se refere à aprovação ou reprovação, as médias são mais fortes do que a relação professor-aluno. Por vezes, um aluno vai ser reprovado por ‘décimos’; então, a responsabilidade já não está mais em suas mãos. Ou seja, uma relação entre coisas: as notas”.

 - As notas se tornaram divindade adorada tanto pelo professor quanto pelo aluno. Professor: quando são baixas por mostra sua lisura, mostrar poder. O aluno está à procura do “Santo Graal”, a nota, não pela aprendizagem satisfatória, ele quer a nota. A nota domina tudo: é em função dela que se vive na prática escolar.

·         O medo 

o   Importante no controle social (internalizado é freio às ações indesejáveis). Reiterado, gera modos permanentes e petrificados de ação. Daí, o Estado, a Igreja, a família e a escola utilizarem-se dele de forma exacerbada.

- “O castigo é o instrumento gerador do medo, seja ele, explícito ou velado. Hoje não estamos usando o castigo físico explícito, porém, estamos utilizando um castigo muito mais sutil – o psicológico. A ameaça é um castigo antecipado”.

- “Provavelmente mais pesado e significativo que o castigo físico, do ponto de vista do controle. A ameaça é um castigo psicológico que possui duração prolongada, na medida em que o sujeito poderá passar tempos ou até a vida toda sem vir a ser castigada, mas tem sobre sua cabeça a permanente ameaçada”.   

- Avaliação da aprendizagem nas escolas: papel de castigo permanente, por meio da ameaça.

·         Consequências

o   Pedagogicamente: centra a atenção nos exames, não auxilia a aprendizagem dos educandos.

- A função verdadeira da avaliação da aprendizagem seria auxiliar a construção da aprendizagem satisfatória: porém, como ela está centralizada nas provas e exames, secundariza o significado do ensino e da aprendizagem como atividades significativas em si mesmas e superestima os exames. Ou seja, pedagogicamente, a avaliação da aprendizagem, na medida em que estiver polarizada pelos exames, não cumprirá a sua função de subsidiar a decisão da melhoria da aprendizagem”.

·         Psicologicamente

o   Útil para desenvolver personalidades submissas, da autocensura. O fetiche inviabiliza tomar a realidade como limite da compreensão e das decisões da pessoa. 

- “De todos os tipos de controle, o autocontrole é a forma como os padrões externos cerceiam os sujeitos, sem que a coerção externa continue a ser exercitada. O autocontrole psicológico, talvez, seja a pior forma de controle, desde que o sujeito é presa de si mesmo. A internalização de padrões de conduta poderá ser positiva ou negativa para o sujeito”.

·         Sociologicamente

o   Da forma como é utilizada é útil para os processos de seletividade social.

- “No caso, a sociedade é estruturada em classes e, portanto, de modo desigual; a avaliação da aprendizagem, então, pode ser posta, sem a menos dificuldade, a favor do processo de seletividade, desde que utilizada independentemente da construção da própria aprendizagem. No caso, a avaliação está muito mais articulada com a reprovação do que com a aprovação e daí vem a sua contribuição para a seletividade social, que já existe independente dela. A seletividade social já está posta: a avaliação colabora com a correnteza, acrescentando maus um ‘fio d’água”.