"Definir o brinquedo como uma atividade que
dá prazer à criança é incorreto por duas razões. Primeiro, muitas atividades dão
à criança experiências de prazer muito mais intensas do que o brinquedo, como
por exemplo, chupar chupeta, mesmo que a criança não se sacie. E, segundo,
existem jogos nos quais a própria atividade não é agradável, como por exemplo
predominantemente no fim da idade pré-escolar, jogos que só dão prazer à
criança se ela considera o resultado interessante. Os jogos esportivos (não
somente os esportes atléticos, mas também outros jogos que podem ser ganhos ou
perdidos) são, com muita freqüência, acompanhados de desprazer, quando o
resultado é desfavorável para a criança.
No entanto, enquanto o prazer não pode ser
visto como uma característica definidora do brinquedo, parece-me que as teorias
que ignoram a fato de que o brinquedo preenche necessidades da criança, nada
mais são do que uma intelectualização pedante da atividade de brincar.
Referindo-se ao desenvolvimento da criança em termos mais gerais, muitos
teóricos ignoram, erroneamente, as necessidades das crianças - entendidas em
seu sentido mais amplo, que inclui tudo aquilo que é motivo para a ação.
Freqüentemente descrevemos o desenvolvimento da criança como o de suas funções
intelectuais; toda criança se apresenta para nós como um teórico, caracterizado
pelo nível de desenvolvimento intelectual superior ou inferior, que se desloca
de um estágio a outro. Porém, se ignoramos as necessidades da criança e os
incentivos que são eficazes para colocá-la em ação, nunca seremos capazes de
entender seu avanço de um estágio do desenvolvimento para outro, porque todo
avanço está conectado com uma mudança acentuada nas motivações, tendências e
incentivos" (Vygotsky, A formação social da mente)..
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