Comentário do texto: HISLDORF,
Maria Lúcia Spedo. 2001. Construindo a escolaridade em São Paulo (1820-1840).
In: VIDAL, Diana Gonçalves, PRADO, Maria Ligia C. (orgs). À margem dos 500
anos: reflexões irreverentes. São Paulo: EDUSP.
Neste
texto Maria Lúcia Spedo Hilsdorf discute temas da História da Educação paulista
do início do século XIX ligados à reconstituição, por meio de registros
escritos, “de uma sociedade ainda oralizada, de relação face to face,
que foi envolvida em um movimento de lento, conflituoso, mas tentacular” (p.
186) de substituição das várias formas de educação praticadas, pela forma
escolar.
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Sede da Chácara dos Ingleses, onde a partir de 1825 funcionaria
o Hospital da Santa Casa e o Seminário da Gloria.
Aquarela de Edmond Pink, 1823
Reprodução: http://historiaehistoria.com.br
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O Estado e a hierarquia
eclesiástica, os criadores do Seminário, desejavam que as meninas aí abrigadas
se tornassem mães e esposas pela educação e instrução. Para isso, indicavam no
Estatuto que o diretor fosse pessoa temente a Deus, de vida exemplar, com
conhecimentos necessários para ensinar a ler e escrever, fiar e coser. Para que
o Estatuto fosse cumprido, faziam pressão junto aos diretores e regentes.
Contudo, os relatórios apresentados mostravam que as exigências não eram
cumpridas. Entre os anos de 1826 e 1827, por exemplo, as meninas aprenderam
apenas ler, costurar, a amarrar pussá, engomar, bordar, fazer flores e crivo e
fiar algodão, não atingiram, assim, segundo Hilsdorf, uma escolarização
elementar (p. 197).
Segundo a autora, essa
fragilidade do ensino pode ser considerada como uma manifestação de uma
sociedade oral, ligada ao componente ascético da devoção beata e popular,
reprimida pelo governo ilustrado e pelo clero iluminista, porém incutido no
cotidiano do Seminário (p. 198). Dona Eliziária Espínola, uma das primeiras
diretoras, foi acusada, por exemplo, de dirigir o Seminário como se esse fosse
um recolhimento, pois enclausurava as meninas, educava-as como se fossem
religiosas. Em sua defesa, a referida diretora, afirmou apenas que assim agia
devido a sua sensibilidade (Hilsdorf, p. 198) e deixou a direção da
instituição.
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