
(Cetro/2012)
Leia o texto abaixo para responder às questões de 1 a 3.
“Se
admitirmos que as práticas escolares são testemunhas (e sempre protagonistas)
das transformações históricas, isto é, que seu perfil vai adquirindo diferentes
contornos de acordo com as contingências socioculturais, temos que admitir
também que a indisciplina nas escolas revela algo interessante sobre nossos dias.
Com a
crescente democratização política do país e, em tese, a desmilitarização das
relações sociais, uma nova geração se criou. Temos diante de nós um novo aluno,
um novo sujeito histórico, mas, em certa medida, guardamos como padrão
pedagógico a imagem daquele aluno submisso e temeroso. De mais a mais, ambos, professor
e aluno, portavam papéis e perfis muito bem delineados: o primeiro, um general
de papel; o segundo, um soldadinho de chumbo. É isto que devemos saudar?
Outro dado
problematizador desse mito da escola de outrora refere-se ao fato de ela ser um
espaço social pouco democrático. Aliás, o direito à escolaridade básica de oito
anos é uma conquista social muito recente na história do país; basta lembrarmos
os exames de admissão de antes do início dos anos 70.
No caso do
Estado de São Paulo, relata um dos protagonistas da reforma da época: “O
problema maior da expansão maciça do ensino ginasial consistiu na resistência
de grande parcela do magistério secundário que encontrou ampla ressonância no
pensamento pedagógico da época. Raros foram os que tomaram posição na defesa da
política de ampliação de vagas, embora todos, como sempre, defendessem a
democratização do ensino. A alegação de combate, já tantas vezes enunciada, era
sempre a mesma: o rebaixamento da qualidade do ensino”.
É possível
afirmar, portanto, que esta escola de outrora tinha um caráter elitista e
conservador, destinando-se prioritariamente às classes sociais privilegiadas.
Ou melhor, o acesso das camadas populares à escola era obstruído pela própria
estruturação escolar da época. O que os dias atuais atestam, no entanto, é que
as estratégias de exclusão, além de continuarem existindo, sofisticaram-se.
AQUINO,
Julio Groppa. “A desordem na relação professor-aluno: indisciplina, moralidade
e conhecimento”. In AQUINO, Julio Groppa (org.). Indisciplina na escola:
alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 1996. p.41-44 (com alterações).
1. Levando em consideração o texto como um todo e as
orientações da gramática normativa tradicional, assinale a alternativa correta
a respeito das afirmações do primeiro parágrafo.
(A) O trecho inicial “Se admitirmos
que as práticas escolares são testemunhas”, pode ser reescrito da seguinte
maneira, sem que ocorra erro gramatical ou alteração de sentido: “Admitir-se
que as práticas escolares são testemunhas”.
(B) No trecho: “Se admitirmos que as
práticas escolares são testemunhas (e sempre protagonistas)”, o trecho incluído
entre parênteses acrescenta afirmação que não terá relevância no
desenvolvimento do texto como um todo.
(C) Infere-se, a partir do primeiro
parágrafo, que as práticas escolares são resultantes de fatores externos ao
cotidiano escolar em si, cujo funcionamento e cujas normas prescindem das
contingências socioculturais em que estão imersos.
(D) No fragmento: “seu perfil vai
adquirindo diferentes contornos de acordo com as contingências socioculturais”,
o vocábulo destacado pode ser substituído por “eventualidades”, sem causar alteração
de sentido.
2. Levando em consideração o texto
como um todo e as orientações da gramática normativa tradicional, assinale a
alternativa correta a respeito das afirmações do primeiro e do segundo
parágrafos.
(A) Infere-se que a indisciplina
revela uma contradição inerente ao cotidiano escolar dos nossos dias: um novo
modelo de aluno em conflito com escolas ainda pouco democráticas, de caráter elitista
e conservador.
(B) Nos trechos: “democratização
política do país” e “desmilitarização das relações sociais”, no segundo
parágrafo, os termos destacados são resultado da regência dos substantivos
abstratos de ação que os precedem e expressam os agentes das ações
representadas por esses substantivos.
(C) A oração “Temos diante de nós
um novo aluno, um novo sujeito histórico” pode ser reescrita da seguinte
maneira, sem que ocorra erro gramatical ou prejuízo semântico: “Há diante de
nós um novo aluno, um novo sujeito histórico”.
(D) No trecho: “um novo sujeito
histórico mas, em certa medida, guardamos como padrão pedagógico a imagem”, a
segunda ocorrência da vírgula é obrigatória, devido à utilização da conjunção coordenativa
“mas”.
3. Levando em consideração o texto
como um todo e as orientações da gramática normativa tradicional, assinale a
alternativa correta a respeito das afirmações do segundo e terceiro parágrafos.
(A) As expressões “daquele aluno
submisso e temeroso” e “um soldadinho de chumbo”, do segundo parágrafo,
referem-se ao modelo de aluno que correspondia às expectativas das escolas de
caráter elitista e conservador, ligadas à desmilitarização das relações
sociais.
(B) Por meio da pergunta que encerra o
segundo parágrafo, é possível inferir o ponto de vista defendido no texto: o de
que o modelo pouco democrático, elitista e conservador da escola de outrora não
só não corresponde à nova geração de alunos como não merece aclamação.
(C) O trecho “refere-se ao fato de ela
ser um espaço social pouco democrático”, também pode ser escrito da seguinte
maneira, sem que ocorra erro gramatical: “refere-se ao fato dela ser um espaço
social pouco democrático”.
(D) O trecho final do terceiro
parágrafo “basta lembrarmos os exames de admissão de antes do início dos anos
70” pode ser reescrito da seguinte maneira, sem que ocorra erro gramatical ou
prejuízo semântico: “basta lembrarmos dos exames de admissão anteriores ao
início dos anos 70”.
Gabarito
1- D
2- A
3- B
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